Elaboração de uma unidade de treino
"Tal como em todas as modalidades
desportivas, também o futsal utiliza o treino como forma de optimizar as
potencialidades dos atletas que praticam este desporto. Como tal,
quanto melhor pensado, oportunamente aplicado e quanto melhor
desenvolvido, maior a probabilidade de, do treino, resultarem os
objectivos pretendidos. Compreende-se assim, a importância da sua
preparação. Cada treinador tem a sua forma de
planear um treino, o que a seguir irei referenciar, não é uma receita,
mas antes a forma que considero a mais eficaz, perante a realidade
em que me encontro.
Elaboração da Unidade de Treino
A UT deve ter um cabeçalho onde se
identifica o número do treino, a data e o micro-ciclo onde se enquadra.
Nesse cabeçalho também deverá constar as componentes da carga,
nomeadamente o volume e a intensidade, e os principais objectivos que se
pretendem atingir nesse treino. Depois, deverá ser dividida em 3
Partes: Introdutória, Fundamental e Final.
Na parte Introdutória do treino, são
realizados alguns alongamentos e alguma activação geral. Nesta parte
aproveito para fazer um resumo daquilo que se pretende para esse treino,
referindo os objectivos principais, e o tipo de trabalho que se vai
desenvolver. Nesta parte também consta uma estimulação cardio-vascular, o
chamado “aquecimento”, onde se pretende que os jogadores se preparem
para a parte fundamental do treino, de modo a evitar lesões. Nesta
parte, normalmente já se aproveita para trabalhar Movimentações
Ofensivas e Circulações de bola, bem como outros aspectos
técnico-tácticos. Se os guarda-redes estão a trabalhar à parte, estas
Movimentações Ofensivas não terminam com finalização, se os guarda-redes
estão integrados no trabalho desde o início do treino, as Movimentações
terminam com passe para as mãos dos guarda-redes, onde também eles vão
aquecendo de forma gradual. Normalmente gosto de realizar alguns Jogos
Condicionados nesta parte inicial, com o objectivo de começar a
estimular algumas tomadas de decisão, e principalmente para que os
jogadores elevem os níveis de concentração.
Na parte fundamental do treino, são
escolhidas as melhores tarefas possíveis para desenvolver os objectivos
pretendidos, sejam eles técnico-tácticos ou físicos. Aqui, considero que
é sempre possível trabalhar ambos simultaneamente. Se eu quero um
trabalho mais aeróbio, aumento o volume e baixo a intensidade, se quero
um trabalho mais anaeróbio, baixo o volume, aumento a intensidade e os
tempos de pausas. No entanto, costumo procurar sempre exercícios com
intensidades médias/altas, variando sim o tempo da pausa. Pretende-se
sempre que essas tarefas se desenvolvam do modo mais próximo possível às
situações reais de jogo. Um aspecto importante é tentar controlar o
maior número possível de variáveis que podem ocorrer num jogo, e quanto
mais próximo do jogo se trabalhar, maior a probabilidade dessas
variáveis serem controladas e trabalhadas em situação de treino,
evitando ao máximo surpresas inesperadas no jogo. Obviamente que quanto
melhor se conhecer o adversário que teremos de enfrentar no
fim-de-semana, menos surpreendidos seremos em competição. E é
precisamente sobre aquilo que se conhece do adversário, que também é
preparado grande parte do trabalho para o treino, de modo a ajustar
alguns pormenores defensivos e ofensivos, para optimizar a nossa
eficácia perante situações específicas em que o adversário se poderá
revelar mais perigoso, e de modo a aproveitar um ou outro tipo de
situações em que o adversário não é tão eficaz.
Na parte final do treino é dada
importância novamente aos alongamentos, à semelhança do início do
treino, mas agora com maior insistência nos principais grupos musculares
solicitados durante o treino, e com maior duração para cada
alongamento. O treinador também pode fazer um pequeno balanço sobre a
prestação geral dos jogadores e referir alguns aspectos mais importantes
que serão trabalhados no treino seguinte."
Nuno Dias e Gonçalo Santos